Factos Fictícios

Monday, November 07, 2005


Vega City - 03:42 a.m.
Ano: 2874 ( 827d.H.)
Capítulo primeiro


Ao longe vislumbram-se os esguios edifícios de Vega. Nota-se o movimento do trânsito aéreo. Apesar de distante a cidade parece muito próxima. Tal impressão deve-se ao seu descomunal tamanho. Tão grande e tão pequena comparada com a imensidão dos pântanos que a rodeiam. Black Jack encontra-se no cais 06 do abandonado aeroporto em tempos utilizado para transporte de mercadorias pesadas de Ossecus para Bloody Fang. À sua volta dançam redemoinhos de lixo e plantas secas. O vento frio penetra o seu corpo e lembra-o da razão por que está aqui. Daqui a pouco pode não ser frio mas sim balas a atravessarem-lhe a espinha. Levanta as golas da sua gabardina cinzenta e ao baixar os braços sente o confortável chumaço da sua Onixon YSK ,sob o seu braço, com capacidade para 34 balas explosivas. Desencosta-se do seu Pegasus quando ao longe ouve o rosnar de um motor potente. Um O.M.I. Heli-473 modelo antigo dirige-se na sua direcção a grande velocidade.
Abranda e fica a pairar no ar quase que por cima do seu avião. Depois pousa suavemente como um helicóptero. À muito tempo que Jack não via um destes fora de Ossecus. O reino de Ossecus é conhecido pela rápida desactualização das seus inventos.
De dentro do OMI-Heli saem duas figuras extremamente largas envergando ambas roupagens completamente negras, providas de uma capa, que mais se assemelham a uniformes. Uma delas questiona:
- Jack Oso Drac. , presumo?
Jack ergueu a cabeça que olhava o chão num sinal de desprezo, respondendo:
- Sim, sou eu.
- Sabe com certeza o motivo da sua chamada aqui?
- Não, não faço a menor ideia - respondeu esboçando um sorriso cínico - para ser mais concreto nem sei para que é que me dei ao trabalha de cá vir. O último serviço ainda nem sequer foi pago. A outra figura que tinha até agora permanecido silenciosa manifestou-se com desagrado.
- Pensávamos que tinha sido informado do objectivo da missão. Por certo o contacto não compreendeu bem as instruções.
- Também não vai ser agora que compreenderá - comentou uma voz do interior da aeronave num tom no mínimo fantasmagórico- já passou à história - acrescentou.
Esta outra figura, esquelética e pálida, Jack conhecia muito bem. Era o prof. Britury Ghusjtovsky recentemente ligado a um qualquer projecto da Metro Tec. Jack aproximou-se e tirou as mãos dos bolsos para formalmente saudar Britury. Os dois guarda-costas levaram imediatamente a mão atrás das costas para sacarem das armas quando quer que fosse necessário. Jack estendeu-lhe a mão mas o prof. limitou-se a virar costas para apanhar um mala que estava pousada no chão. Abriu-a e mostrou-a a Black Jack dizendo:
- Simples e rápido. O pagamento atrasado e com juros e o deste novo trabalho. Ao todo 5250 shields ou o equivalente em vales de crédito da Mind Works. Pegar ou largar.
- Sim. E o que é que tenho que transportar? Uma bomba? Um projecto secreto? Um mutante? O que é que um imune, um representante da Metro Tec. não pode carregar?
- A incógnita faz parte do preço. 6000 shields como última oferta.
- Sim? E qual é o destino?
- Citog, Utopolis.
- Ah?! Está à espera que eu entre no espaço aéreo Utopoliano sem autorização e com carga possivelmente ilegal a bordo. Isso seria um suicídio. Sabe muito bem que eles já possuem controlo orbital, nada lhes escapa. Muito menos um transporte clandestino. Nem pensar. O mais certo era abaterem-me antes de aterrar o avião. Além do mais tem como alternativa a Sky Way 14 sem alfândega.
- Bom Jack, nunca imaginei que fosses recusar. É uma pena não poder negociar mais contigo. Ah! Já me esquecia. O pagamento atrasado.
Um pequeno talismã oferecido a Black Jack por alguém já desaparecido avisa-o, sempre e em qualquer situação, do perigo, aquecendo. Desta vez escaldou. Mesmo a tempo Jack atira-se para o chão evitando um rajada de balas U.S. (ultra sónicas). Puxa da pistola e começa a disparar sobre os adversários. Uma das balas acerta em cheio no peito de um dos guarda-costas no momento exacto em que os motores do OMI-Heli começam a arrancar. O outro tem ainda tempo de se agarrar à escada do aeroplano mas Ghusjtovsky fica para trás amaldiçoando o piloto. Volta-se e fixa o seu olhar em Jack quando de repente puxa uma arma automática debaixo da bata branca ferindo Black Jack no ombro e na perna direita. A mancar Jack persegue o prof. pelos pântanos. Mas já perdeu muito sangue e sente-se fraco. Volta por isso ao seu Pegasus. Não esperava outra coisa ao chegar. Estava completamente destruído. Se não fosse ter escondido um flutuador perto do local, Jack possivelmente, morreria ali já que é impensável percorrer o caminho até Vega por lamaçais, muito menos naquele estado. Com grande esforço Jack conseguiu chegar ao mais próximo cais aéreo. Foi rapidamente assistido pela equipa médica local, que tratou de contactar o Hospital de Vega. Alguns minutos mais tarde ouvia-se o assobiar das sirenes da ambulância que se aproximava. Já numa maca, foi logo conduzido para o seu interior. Depois...depois desmaiou. Estava completamente esgotado, e o demasiado sangue que perdera não o favorecia muito.
Ao acordar Jack contemplou o tecto, da enfermaria onde se encontrava, muito enegrecido pela humidade. Era um ambiente pouco apropriado para um hospital. Mas de qualquer modo, em Veja, tudo parecia desapropriado. À sua volta encontravam-se muitos outros feridos que gemiam e tossiam frequentemente. Depois de alguns segundos, recuperou a lucidez. Ainda sentia os membros dormentes mas conseguia sem dificuldade movimentar a cabeça e ter assim uma ideia do que se passava à sua volta. Minutos depois foi confrontado pela visão aliviante do médico de serviço. Este era alto e ostentava uma pose um pouco curvada que denunciava uma frágil constituição. No entanto a sua face irradiava um ar jovial que juntamente com os seus óculos franzinos lhe conferiam uma certa simpatia. Passou os olhos no mostrador de cristais líquidos incorporado na maca. Jack esforçou-se por o questionar sobre o seu estado mas não conseguia combater as tonturas da anestesia artificialmente induzida. O médico reparou na sua tentativa e consolou-o:
- Não vale a pena. Os efeitos da indução anestésica perduram sempre durante alguns minutos - esta afirmação frustrou Jack que odiava sentir-se incapaz - Ora vejamos... três implantes de titânio, dois no ombro e um na perna. Causas? Disparos! Parece que esteve metido em sarilhos. Vai ter que me explicar o que aconteceu para eu poder apresentar um relatório. Todos os casos deste género são agora de registo obrigatório. À que combater a criminalidade na nossa cidade.
- Será talvez um pouco tarde demais, não? – proferiu Jack num tom muito fraco e rouco.
- Vejo que está a recuperar as suas faculdades. Foi rápido! Ora o seu nome...Jack! Aqui está. Jack Oso Drac, mercenário procurado pelas autoridades de Utopolis, acusado de fraude e contrabando – dizia o médico num tom cínico enquanto mexia nos botões do mostrador de cristais líquidos que produziam irritantes “bips” - Anda fugido! De qualquer maneira não colaboramos com as nações vizinhas e visto que não praticou nenhum delito dentro de Bloody Fang, não o posso reter. Mas acerca do seu comentário, não acredito que seja tarde demais. Vamos sempre a tempo de fazer qualquer coisa. E como vê se fosse um criminoso local já o teríamos capturado.
- O que pode o fumo contra o ferro. Se me acha um criminoso, experimente percorrer Vega de flutuador urbano o até mesmo de multergos colectivo, e veja o verdadeiro crime que infesta realmente a vossa cidade e tão má fama lhe atribui.
O médico controlou-se para não abandonar o seu profissionalismo com um qualquer insulto a Black Jack e numa calma aparente terminou a discussão:
- Gostava de poder conversar mais consigo sobre a insegurança urbana, mas a verdade é que o senhor Oso Drac é meu paciente e além de si tenho outros para atender. Portanto diga-me, invente se quiser, qualquer coisa para eu pôr no meu relatório que tenho outros afazeres.
- Fui abordado, nas imediações do Complex, por um grupo numeroso de malfeitores que perante a minha recusa de lhes entregar todos os meus valores, me balearam com intenção homicida.
O médico salvou o registo de voz juntamente com o seu relatório. Jack fitava-o desconfiado, enquanto este acertava os últimos pontos no registo. O seu olhar denunciava mentira e o médico tinha-se apercebido disso. Mas, como era seu costume, evitava complicações e contentava-se com uma boa desculpa para apresentar. No fundo sabia, que a maior parte dos doentes que atendia, mentia nas causas do sinistro.
- Pois bem. Terá que ficar connosco pelo menos mais quarenta e oito horas. As duas operações a que foi sujeito podem ter repercussões. Enquanto o seu organismo não aceitar totalmente os implantes não lhe podemos dar alta.

Nota: a partir deste ponto a história parou. Só o futuro dirá se continua...

Fundação - Jack Oso Drack, apresentação

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Fundação


Jack era só mais um entre o enxame de mercenários que migravam frequentemente das ilhas sulistas para Bloody Fang em busca de fortuna. Talvez não tenha sido justo quando me dirigi a Jack como "só mais um". Black Jack, como o apelidavam, era especial. Um pequeno talismã, em forma de espiral rectangular, conferia-lhe uma sorte incomum. Raramente perdia nos jogos de azar e perigos diversos eram antevistos por um ligeiro aquecimento do colar que usava ao pescoço. Esse colar, o seu talismã, havia-lhe sido oferecido, há muito, como parte do pagamento do transporte de uma figura sinistra e misteriosa que ia supostamente numa missão terrorista contra a Ordem de Utopolis.
Antes de continuar acho que devo fazer uma pequena abordagem sobre a política, nada simples, de Kudos. Kudos é basicamente constituído por quatro principais nações. A maior, a de Bloody Fang – Garra Sangrenta – alberga a maioria da população de Kudos. É uma comunidade gerida pelas grandes organizações clandestinas e criminosas onde impera literalmente a sobrevivência do mais apto. No entanto a LEI – Legião Estatal de Intervenção – desempenha um papel crucial na protecção da população civil. Fang tem a melhor polícia de intervenção de Kudos e o melhor exército depois de Utopolis. Mas apesar de todos os esforços, cada vez mais as cidades e as indústrias são dominadas pelos sindicatos do crime organizado, formando uma vasta rede que abrange mesmo outras nações.
Uma delas Ossecus Kingdom – Reino de Ossecus –, a nação da indústria e do comércio, que devido à sua fraca vigilância, se torna rapidamente num antro criminal e num abrigo dos fugitivos à Lei de Fang. Já pelo contrário, a C.C.C. – Comunidade Citadina Civilizada – resiste às influências da sua vizinha nação de Bloody Fang, mantendo sempre estável o seu ecossistema social. Embora liberais e tolerantes para com o estrangeiro, as autoridades de C.C.C. mantêm controles alfandegários rígidos. A sua legislação para com emigrantes é no mínimo ditatorial. Mas ainda mais restrita é Utopolis – o projecto inicial que iria abrigar todos os kudianos numa gigantesca e utópica cidade. Esta sim uma ditadura militar absoluta onde, embora desfrutando de todas as comodidades possíveis e imaginárias, os seus cidadãos têm de seguir à risca pesados mandamentos, incutidos pelos conselheiros d'O Imperador Dvorák. O seu não cumprimento leva, no mínimo, à secreção da comunidade (ou por expulsão da nação, ou por encarceramento nas prisões na ilha de Zacatral de onde nunca ninguém conseguiu fugir e de onde, certamente nunca alguém conseguirá) e no máximo à pena de morte. Mas o mais importante a referir é o facto de os generais de Utopolis pretenderem conquistar de novo Kudos e assimilar todas as outras nações. Para isso usam métodos promocionais e subliminares que terão oportunidade de conhecer mais tarde. Agora que já sabem um pouco sobre Kudos, podem entender o porquê dos comuns atentados terroristas em Utopolis.

Continuando com Jack, não era só o talismã e os seus atributos que o tornavam especial. De facto existiam poucos pilotos como ele. Conhecia todos os tipos de aeronaves e era capaz de pilotar qualquer uma delas na perfeição. Já recebera uma menção honrosa por lutar ao lado da força aérea de C.C.C. e tinha já antes integrado a tripulação do primeiro trans-fang que atravessou a traiçoeira atmosfera do Mar de Kudos, sendo o seu co-piloto. Era decerteza um dos melhores pilotos de sempre e o melhor de Bloody Fang.
E assim foi ganhando a vida. Torno-se famoso em Bizar Dream, uma cidade parasita de Vega que consegue ser a única, em toda a nação, a registar um nível de criminalidade maior ainda do que o da própria Vega. Foi talvez por isso que Jack se começou a envolver nos negócios mais clandestinos e obscuros. Importar produtos de Ossecus era tarefa lucrativa e relativamente simples. Jack começou a conhecer os contactos e rapidamente se entrosou no negócio começando mesmo a operar por conta própria. Um trabalho bastante vantajoso mas com um inconveniente – a ilegalidade.

Um dia foi-lhe oferecida imunidade judicial, dentro da nação de Fang, em troca de um pequeno serviço. A imunidade judicial vinha muito a calhar para um mercenário como Jack. Funcionava como um livre-trânsito onde fosse válida. Jack cumpriu o seu dever. Recolheu a "encomenda", como chamavam na gíria às coisas a ser transportadas, numa remota ilha a sudoeste da gigantesca península de Kudos. Leva-la ao destino é que era a proeza. O ponto de entrega ficava numa pequena localidade na periferia de Utopolis - Soac - que, embora fosse uma das áreas por acabar, abrigava um provisório acampamento militar que impedia a vandalização que poderia emergir da fronteira com Bloody Fang. Com o seu degradado Pegasus, um pequeno avião comercial que modificara e artilhara à sua maneira, Jack esforçou-se por passar despercebido aos radares e ao controle por satélite que se pensava o exército Utopoliano possuir. Mas não conseguiu. Foi detectado quando acabara de despejar o contentor que transportava, no local preestabelecido. Com a sorte que o vulgarmente acompanhava, conseguiu escapar ileso e só precisou de fazer alguns pequenos reparos na sua nave de estimação. Nunca chegou a saber o que tinha entregue, e durante alguns dias pensou muito no que valeria um passe de imunidade judicial em Fang. Com esta aquisição Jack era praticamente intocável.
Era uma pena que apenas fosse válido dentro da nação de Bloody Fang. Black Jack continuou no ramo e foi amealhando algumas economias. O seu trabalho era agora muito mais fácil de cumprir. Já não usava o seu velho Pegasus mas sim um novinho em folha. Quando juntou economias suficientes, Jack resolveu tirar uma longas férias. Achava-se a arriscar demais da sua farta sorte.
Artilhado até aos dentes Jack aventurou-se de novo na sua terra natal – as ilhas sulistas, o território de ninguém. Fez de um pequeno rochedo o seu esconderijo - afinal o que era um bom mercenário sem o seu próprio abrigo? Em tempos tinha habitado aqui uma pequena população que explorava uma próxima plataforma petrolífera. Depois quando os recursos naturais cessaram e o petróleo se esgotou abandonaram os seus lares e partiram para o continente em busca de prosperidade. Um velho e um jovem moravam ainda na pequena ilhota, numa cabana rudimentar perto da costa sul. Jack contratou-os como ajudantes.
Demorou alguns meses para que Jack se habituasse a viver assim, isolado da civilização, como lhe chamavam. Uma pasmaceira constante fê-lo sentir saudades da confusão e violência de Bizar, a que se tinha acostumado. E de qualquer outro modo não era isto que pretendia. Jack tinha ambição e poder suficiente para fundar uma pequena cidade. Sim, era isso que ele queria. Um dia decidiu voltar a Bizar Dream. Como sempre ia até Vega no seu avião e depois arranjava um qualquer meio de transporte para lá, já que Bizar não dispõe de cais-aéreos. Desta vez comprou um robusto flutuador - uma espécie de mota voadora bastante rápida mas pouco segura e fiável; no entanto era barata.
Pelo meio do caos do trânsito aéreo Jack concentrava-se para não embater nos multergos. Tanto que nem apreciou a assombrosa paisagem que o rodeava. Os edifícios de Vega eram tão altos que navegando entre eles deparava-se-nos a impossibilidade de ver o solo. Apenas se vislumbravam uns ténues brilhos, provavelmente de outros flutuadores ou multergos a altitudes mais baixas. Demorar-lhe-ia um dia inteiro a chegar ao destino e por isso resolveu parar para uma pausa mesmo à saída da cidade. Embora passasse muito tempo em Vega, esta era tão grande que Jack ainda a conhecia muito mal.


Nota: este é um breve resumo da história de Jack Oso Drack. A acção, propriamente dita, tem início no próximo post. Recua-se no tempo para dar início à saga de Jack que, infelizmente, não foi desenvolvida além do próximo post.